sexta-feira, 8 de junho de 2007

Hoje é um dia especial

Hoje é um dia especial. O fato de dizer isso, vocês hão de assentar, já corrobora para que essa seja a verdade. Mesmo que praticamente tudo o que vemos ao percorrer os caminhos da cidade nos leve a crer que esse mesmo “tudo” já está perdido, ainda assim repito: hoje é um dia especial.
No caminho para o trabalho ouço no rádio que o presidente da nova República da Esperança, Lula da Silva, juntamente com os ministros da esperança, está em visita a regiões pobres do Nordeste brasileiro. Ouço que a comitiva presidencial é aguardada com ansiedade pela população de Brasília Teimosa, comunidade surgida entre o bairro do Pina e o centro do Recife. Lá, pessoas se amontoam para ver de perto a esperança nas barbas de um sorridente presidente Silva. O repórter se esforça para falar enquanto as pessoas - que já vêem no próprio repórter figura ilustre e rara na região -, se esforçam para entender. O jornalista então introduz a matéria relevando o fato de algum morador ter-lhe confidenciado que, em iniciativa nada comum , as improvisadas ruas receberam no dia anterior a visita de dezenas de homens da prefeitura que trataram de correr com as ferramentas e limpar ruas, cortar árvores e matos, enfim, dar uma guaribada e tentar transformar em lugar a corruptela que receberia a comitiva esperança.
Logo em frente vejo a nova ponte inaugurada pelo recém reeleito governador de Brasília – o que demonstra ser esta Brasília também bastante teimosa. Uma obra realmente linda, monumental, moderna, exuberante mesmo aos olhos dos que, como eu, já a atravessaram inúmeras vezes desde sua chuvosa inauguração. E é mesmo uma bela vista a imagem de uma ponte, objeto que tem por princípio ligar lados opostos. Este tipo de visão nos faz bem e também corrobora a frase inicial deste texto. O dia então é cada vez mais especial.
Mais adiante, de volta às ondas do rádio, me dou conta que a qualidade do som daquele noticiário e as vinhetas mais que manjadas em nada ajudam à manutenção do meu juvenil bom dia e, mais que depressa, levo a mão à parte de traz do banco do motorista onde guardo algum remédio antitédio em forma de CDs. Com o estojo nas mãos, ou na mão, já que a outra se encontra em trabalho ininterrupto na direção, saco depressa um Djavan e em movimento automático introduzo-o no aparelho, opa! Sem viadagens, eim!? Ah, agora sim, sabia que este dia só ficaria melhor. E melhor ele fica quando me lembro que é sexta-feira, ai é demais... agora é só chegar ao trabalho e... trabalhar.
Infelizmente ando meio brigado com o trabalho, não este das crônicas que eu adoro, mas sim aquele formatadinho, nove às seis, que deixam a gente com cara de ônibus. Sim, porquê ônibus é que chega atrasado, quebra e não chega, fica lotado, descansa só no fim da noite, e chega ao fim da semana todo rasgado, pichado de palavrões e de nomes de pessoas, com a alma toda emporcalhada. Aí é um tal de liga para o médico, troca o óleo, revisa o motor e sai limpinho pra de novo encher a cabeça de porcaria e ocupar os poucos assentos com coisa que mal embarcou e já quer descer no próximo ponto.
Mas hoje é sexta e a gente se dá ao luxo de não parar em qualquer ponto, de seguir em frente, com destino certo e o pé no fundo em direção ao fim-de-semana. Pá, panã, nã, passa mais além do céu de Brasília, traço do arquiteto / gosto tanto dela assim...

(Escrito em 10.01.2003)

2 comentários:

Dante Accioly disse...

Grande André! Muito massa a Penúltima Palavra! Massa mesmo! Vou sempre dar uma passada por aqui! Ei, cara! Tu escreve bem pra caramba! Abração!

André Halo disse...

Valeu, Dante! Eu gostaria também que você postasse seus ótimos textos e seus vídeos ainda melhores.
Abraço