Hoje é um dia especial. O fato de dizer isso, vocês hão de assentar, já corrobora para que essa seja a verdade. Mesmo que praticamente tudo o que vemos ao percorrer os caminhos da cidade nos leve a crer que esse mesmo “tudo” já está perdido, ainda assim repito: hoje é um dia especial.
No caminho para o trabalho ouço no rádio que o presidente da nova República da Esperança, Lula da Silva, juntamente com os ministros da esperança, está em visita a regiões pobres do Nordeste brasileiro. Ouço que a comitiva presidencial é aguardada com ansiedade pela população de Brasília Teimosa, comunidade surgida entre o bairro do Pina e o centro do Recife. Lá, pessoas se amontoam para ver de perto a esperança nas barbas de um sorridente presidente Silva. O repórter se esforça para falar enquanto as pessoas - que já vêem no próprio repórter figura ilustre e rara na região -, se esforçam para entender. O jornalista então introduz a matéria relevando o fato de algum morador ter-lhe confidenciado que, em iniciativa nada comum , as improvisadas ruas receberam no dia anterior a visita de dezenas de homens da prefeitura que trataram de correr com as ferramentas e limpar ruas, cortar árvores e matos, enfim, dar uma guaribada e tentar transformar em lugar a corruptela que receberia a comitiva esperança.
Logo em frente vejo a nova ponte inaugurada pelo recém reeleito governador de Brasília – o que demonstra ser esta Brasília também bastante teimosa. Uma obra realmente linda, monumental, moderna, exuberante mesmo aos olhos dos que, como eu, já a atravessaram inúmeras vezes desde sua chuvosa inauguração. E é mesmo uma bela vista a imagem de uma ponte, objeto que tem por princípio ligar lados opostos. Este tipo de visão nos faz bem e também corrobora a frase inicial deste texto. O dia então é cada vez mais especial.
Mais adiante, de volta às ondas do rádio, me dou conta que a qualidade do som daquele noticiário e as vinhetas mais que manjadas em nada ajudam à manutenção do meu juvenil bom dia e, mais que depressa, levo a mão à parte de traz do banco do motorista onde guardo algum remédio antitédio em forma de CDs. Com o estojo nas mãos, ou na mão, já que a outra se encontra em trabalho ininterrupto na direção, saco depressa um Djavan e em movimento automático introduzo-o no aparelho, opa! Sem viadagens, eim!? Ah, agora sim, sabia que este dia só ficaria melhor. E melhor ele fica quando me lembro que é sexta-feira, ai é demais... agora é só chegar ao trabalho e... trabalhar.
Infelizmente ando meio brigado com o trabalho, não este das crônicas que eu adoro, mas sim aquele formatadinho, nove às seis, que deixam a gente com cara de ônibus. Sim, porquê ônibus é que chega atrasado, quebra e não chega, fica lotado, descansa só no fim da noite, e chega ao fim da semana todo rasgado, pichado de palavrões e de nomes de pessoas, com a alma toda emporcalhada. Aí é um tal de liga para o médico, troca o óleo, revisa o motor e sai limpinho pra de novo encher a cabeça de porcaria e ocupar os poucos assentos com coisa que mal embarcou e já quer descer no próximo ponto.
Mas hoje é sexta e a gente se dá ao luxo de não parar em qualquer ponto, de seguir em frente, com destino certo e o pé no fundo em direção ao fim-de-semana. Pá, panã, nã, passa mais além do céu de Brasília, traço do arquiteto / gosto tanto dela assim...
(Escrito em 10.01.2003)
No caminho para o trabalho ouço no rádio que o presidente da nova República da Esperança, Lula da Silva, juntamente com os ministros da esperança, está em visita a regiões pobres do Nordeste brasileiro. Ouço que a comitiva presidencial é aguardada com ansiedade pela população de Brasília Teimosa, comunidade surgida entre o bairro do Pina e o centro do Recife. Lá, pessoas se amontoam para ver de perto a esperança nas barbas de um sorridente presidente Silva. O repórter se esforça para falar enquanto as pessoas - que já vêem no próprio repórter figura ilustre e rara na região -, se esforçam para entender. O jornalista então introduz a matéria relevando o fato de algum morador ter-lhe confidenciado que, em iniciativa nada comum , as improvisadas ruas receberam no dia anterior a visita de dezenas de homens da prefeitura que trataram de correr com as ferramentas e limpar ruas, cortar árvores e matos, enfim, dar uma guaribada e tentar transformar em lugar a corruptela que receberia a comitiva esperança.
Logo em frente vejo a nova ponte inaugurada pelo recém reeleito governador de Brasília – o que demonstra ser esta Brasília também bastante teimosa. Uma obra realmente linda, monumental, moderna, exuberante mesmo aos olhos dos que, como eu, já a atravessaram inúmeras vezes desde sua chuvosa inauguração. E é mesmo uma bela vista a imagem de uma ponte, objeto que tem por princípio ligar lados opostos. Este tipo de visão nos faz bem e também corrobora a frase inicial deste texto. O dia então é cada vez mais especial.
Mais adiante, de volta às ondas do rádio, me dou conta que a qualidade do som daquele noticiário e as vinhetas mais que manjadas em nada ajudam à manutenção do meu juvenil bom dia e, mais que depressa, levo a mão à parte de traz do banco do motorista onde guardo algum remédio antitédio em forma de CDs. Com o estojo nas mãos, ou na mão, já que a outra se encontra em trabalho ininterrupto na direção, saco depressa um Djavan e em movimento automático introduzo-o no aparelho, opa! Sem viadagens, eim!? Ah, agora sim, sabia que este dia só ficaria melhor. E melhor ele fica quando me lembro que é sexta-feira, ai é demais... agora é só chegar ao trabalho e... trabalhar.
Infelizmente ando meio brigado com o trabalho, não este das crônicas que eu adoro, mas sim aquele formatadinho, nove às seis, que deixam a gente com cara de ônibus. Sim, porquê ônibus é que chega atrasado, quebra e não chega, fica lotado, descansa só no fim da noite, e chega ao fim da semana todo rasgado, pichado de palavrões e de nomes de pessoas, com a alma toda emporcalhada. Aí é um tal de liga para o médico, troca o óleo, revisa o motor e sai limpinho pra de novo encher a cabeça de porcaria e ocupar os poucos assentos com coisa que mal embarcou e já quer descer no próximo ponto.
Mas hoje é sexta e a gente se dá ao luxo de não parar em qualquer ponto, de seguir em frente, com destino certo e o pé no fundo em direção ao fim-de-semana. Pá, panã, nã, passa mais além do céu de Brasília, traço do arquiteto / gosto tanto dela assim...
(Escrito em 10.01.2003)
2 comentários:
Grande André! Muito massa a Penúltima Palavra! Massa mesmo! Vou sempre dar uma passada por aqui! Ei, cara! Tu escreve bem pra caramba! Abração!
Valeu, Dante! Eu gostaria também que você postasse seus ótimos textos e seus vídeos ainda melhores.
Abraço
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