terça-feira, 12 de junho de 2007

Inacreditável (poema do)

Eis a roda da vida - ou seria a rosa da vida? - a anunciar novos ventos, certas marés, outros giros... E o sentido de tudo se desfaz, e o sentido se faz non sense, sem sentido. Eis a anunciação, como diria o menestréu: a alvorada se impõe, o horizonte se descortina, a vida deixa de ser fluência e volta a ser sina.
E eu volto a ser menino. Inconstante, inconseqüente, traquino: não me importam as cicatrizes, e sim a trajetória das quedas, os solavancos do destino. Aprecio de cada intempérie o conforto do desconhecido, o fascínio das descobertas, o frisson das surpresas. Adoro quando me acometem as vilezas. É quando se perde em mim o clamor perigoso do peito em pulsar fluente, ininterrupto. É quando fico mais coerente, e ao mesmo tempo abrupto: antes do beijo, a pele rente. Antes do cortejo, o olhar lascivo. Antes da carícia, o toque permissivo.
Eis a roda da vida cantando a música de Johson, o Jack, arqui-amigo de Buarque, o Chico: "Let it be sung, so we can carry on...". Eis a cantoria do sentimento: de novo o homem, prisioneiro do tormento, de novo o mar, o professor de todos os momentos. Mero peixe, navego sob o sol que beija a água doce do mar, buscando o sal fluvial do beijo.
Eis que volto a ser menino: o ser impávido, ferino, mas navegante. Inocente, míope errante, mas sublime infante. Deixando o corpo solto no ar ensinar ao vento como voar. Eis de novo o menino: encabulado pelo olhar da pequena, encantado pela brisa serena, enlaçado pela alvura da pele... que não é morena.

Fábio Góis

2 comentários:

André Halo disse...

Grande Mr. Góis...

...é bom tê-lo de volta!

Um abraço

Fábio Góis disse...

A honra é toda minha, caro confrade...
A propósito: agradeço, em júbilo e frêmito irrefreáveis, pela ilustração um tanto quanto onírica, postada (creio) por vossa senhoria...
Cordialmente,
Sir Fábio von Góis
Viscond du Bastille