sexta-feira, 8 de junho de 2007

Trecho do Diário de Papanattas



Hoje estou me sentindo melhor. Quase nada me perturbou desde o passeio no pátio. Minha cabeça ainda dói um pouco, afinal esse lugar tem a mesma característica que outrora havia na sala de minha casa, lá no Jardim Botânico: janelas com uma vista linda, de um gramado verdíssimo que dão uma vontade incontrolável de atirar-me com tudo a elas. Mas há sempre algum engraçadinho que na hora h me engana, sumindo com a janela dali ou de qualquer lugar que ela resolva aparecer novamente. Até hoje, só uma vez, consegui perpassá-la. Foi lá em casa, antes de minha mulher me presentear com estas férias aqui neste Resort, muito bom – é bom que se diga - , mas que a bem da verdade hospeda pessoas de muito estranhos hábitos - mas disso tratemos em outra ocasião. Enfim, vagava pela sala assobiando um solo de contrabaixo que sabia de cor quando pela primeira vez apareceu. Lá estava ela, a janela, com uma moldura em madeira envelhecida, o cheiro de carvalho e de chuva e lá, do outro lado, lindo, verdíssimo, a convidar-me para o mergulho inaugural, estava o olente gramado; tomei o fôlego que me havia faltado ante o vislumbre inicial, tomei também alguma distancia na pequena sala e iniciei a corrida para a felicidade verde que aquele imenso tapete impingia ao ar. E num salto me atirei, como havia de me atirar para sempre: com destino à felicidade clorofilada. Não me lembro de ter caído ou deslizado pelo verde chão eterno. Em verdade, não me lembro de nada a não ser acordar com essa surpresa proporcionada por minha amada, porém ausente mulher.
Lembro da minha primeira visita ao pátio, assim que acordei e... agora me passa pela cabeça a lembrança de sentir uma dor parecida com essa que sinto agora. Que coincidência! Enfim, o pátio estava em dia de festa, todos tomando seu Soro da Juventude, fato sobre o qual um novo amigo logo me pusera a par e que eu achei de extremo bom gosto por parte do governo - era o governo que nos fornecia tal solução, fato também noticiado pelo simpático e recém conhecido colega de hospedagem. Que lindo dia, apenas uma tonteira, provavelmente efeito do soro é que me fazia perder de vista algumas janelas que desde então me aparecem até com certa freqüência. Ontem, aliás, lembro-me vagamente de ter visto uma, depois não me lembro de mais nada. Que lugar!
Agora, além da dor de cabeça ter aumentado um pouco exatamente na região onde, não sei a razão, tenho uma protuberanciazinha, me acomete um sono medonho e por essa, e pela razão de que as luzes logo se apagarão – regra comum em hotéis de luxo, segundo relatou o referido colega – devo me recolher. Logo mais, pela manhã, após o desjejum, escreverei sobre as visitas ao Chefe de Estado da Birmânia, que me renderam também um título por aquelas bandas e que me fora conferido pelo próprio “figurão” que – falem baixo – está também hospedado neste hotel.

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